Georges Seurat - O pontilhismo por Ana Monteiro...

Por Ana Monteiro... 

"Georges Seurat nasceu em 1859 numa abastada família burguesa, em Paris.
Com 18 anos, em 1878, entrou para a escola de Belas- Artes e inscreve-se como aluno no estúdio de Hernri Lehmann, um discípulo de Ingres.
Fez vários estudos com mestres da pintura tais como Rafael e Poussin.
Em 1879 interrompeu o trabalho devido a Ter que cumprir o serviço militar.
Este quadro “Agrande- Jatte”começado em 1884 criou grandes criticas e grande polémica naquela altura devido à sua técnica e fez abrir as portas ao caminho dos Impressionistas. Foi exibido, em 1886, na última exposição impressionista, criou uma novidade do tema modernista como pelas técnicas inovadoras com que foi pintado.

Neste quadro encontramos parisienses gozando um Domingo na margem do Rio Sena.
Aqui encontramos a teoria do divisionismo ou pontilhismo.

As cores foram separadas nas suas componentes, isto é em vez das cores serem misturadas com pigmentos e aplicados à tela, são colocadas na tela sem misturas e quando olhamos à distância são misturadas pelo olhar.

Nas zonas que há luz directa do Sol, a cor local está misturada com pontos de pigmentos amarelo e laranja. Nas sombras os pontos são azuis e, noutros sítios, vemos outra misturas mais extensas. Umas, pontinhos amarelos e laranjas representam as partículas filtradas da luz do Sol.
Os vermelhos e púrpuras mostram que a luz foi parcialmente absorvida e reflectida para o olhar.
Seurat criou um ambiente estático como se as pessoas tivessem recebido ordem de suster a respiração e não se mexessem, até os barcos à vela e os remadores parecem paralisados no tempo. Mas há alguns pontos de movimento tais como uma jovem que corre, o cãozinho que está em primeiro plano e seis borboletas.

Seurat foi várias vezes ao local e fez trinta e oito esboços a óleo e vinte e três desenhos preparatórios para este quadro, foi o material de trabalho para a execução da obra-prima no atelier. Estava de tal maneira obcecado que se conta que pedia aos amigos que contassem a erva junto ao rio, porque estava a ficar alta de mais.

O quadro mostra a ilha da Grande- Jatte, no Sena, perto de Neuilly, onde os parisienses ricos passavam os domingos, dado que as actividades relacionadas com barcos estavam na moda. No entanto, Seurat não tentou fazer um retracto real da Grande- Jatte e dos seus visitantes, meros veículos para a exploração do tema e da teoria da cor. A qualidade estática e académica desta obra dizem mais sobre o próprio Seurat e da sua maneira altamente teórica de ver a arte do que sobre os Parisienses da década de 80.

As mulheres que pescam na margem do rio Sena são identificadas como prostitutas, que usam o desporto para disfarçar o seu verdadeiro objectivo, e os soldados mais adiante representam as suas potenciais “Presas”.

Existe influência egípcia em várias figuras que estão de perfil, reflectindo a influência da arte do antigo Egipto, que Seurat estudava nessa altura. Fez vários esboços de relevos egípcios antigos, durante as suas visitas ao Louvre, em Paris.

Seurat mostra-nos uma mistura de classes que se diverte inocentemente ou não. No canto esquerdo em baixo um remador atrevido e abrutalhado senta-se junto duma senhora da burguesia. E bem perto do remador atrás o delicado leque da senhora pousado na erva dá uma nota bastante incongruente ao lado da corpulência preguiçosa do homem. Perto deles um janota chapéu alto.
São aspectos da obra que junto com a sua técnica divisionista desorientaram o público daquela época. Isso até se deduz de um crítico entusiasta como Fénéon diz que:” sob um céu canicular, às quatro (...) quarenta personagens desenhadas de uma forma hierárquica e sumária, tratadas com rigor, quer de costas, de frente ou de perfil, sentados em ângulos recto, deitados horizontalmente ou rigidamente erguidos”


Vamos encontrar na disposição e na composição geométrica da paisagem, sem conter figuras, e ilustrando a visão meticulosa que o pintor tinha da sua arte.

Para além da qualidade estática e a composição geométrica do quadro lhe dêem um carácter eterno, os homens e as mulheres estão vestidos à moda da década de 80,com cinturinhas de vespa e as anquinhas que se usavam na altura. Aqui é demonstrado no tratamento geométrico da figuras, constituídas a partir do cone e do cilindro, e na inclusão de alguns elementos contraditórios como o vento do rio que, num reduzido espaço sopra em direcções opostas. A seriedade do pintor não lhe impede deslizar certas doses de ironia no retracto fiel da moda feminina da época ou na inclusão de improváveis visitantes como o macaco.

Os macacos- capuchinhos eram animais de estimação, e na moda daquele tempo. Há quem veja aqui o macaco a sugerir licenciosidade, indicando que a mulher que o leva pela trela, um prostituta, passa por uma pessoa respeitável. O pintor quis talvez incluir uma mensagem em código sobre a hipocrisia reinante na sociedade francesa da época. Por que motivo os componentes deste casal como o macaco parecem tão desproporcionadamente grandes? O esquema da perspectiva está de tal maneira trabalhado que o quadro deve ser visto do ângulo, desaparecem todas as aparentes distorções.
Igualmente e surpreendente é a elaboração do espaço: é negada a aparência de que obedece a uma perspectiva renascentista tradicional e se observa a diminuição das personagens do primeiro plano da direita para a esquerda.

Seurat dispensou a convencional moldura dourada e pintou a sua própria moldura em redor do quadro. Esta foi desenhada de maneira a que cada secção contenha as cores complementares da parte do quadro mais próxima.

Nas suas obras é aplicado a paisagem divisionista obtendo o resultado de uma pincelada muito pequena, em forma de pequenos pontos redondos que os seus detractores não tardariam em chamar “pointillage”. Uma denominação que irritava profundamente a Seurat, que preferia o termo de cromo- luminismo para definir a sua técnica. O recurso aos pontos permitia-lhe conseguir mais facilmente a mistura óptica.

Tragicamente, o pintor morreu com pouco mais de 31 anos, vítima de meningite, deixando um filho com um ano e uma companheira, Madeleine Knobloch, seu modelo.
Na década de 80 foi a altura florescente nas artes. Ricos coleccionadores gastavam grandes quantias em dinheiro em quadros de arte contemporânea de estilo tradicional e académico, desconhecendo que os neo- impressionistas como Seurat estavam a lançar novas ideias que iam mudar o rosto da arte. Estes adoptavam novas e cientificas teorias da cor, procuravam criar um estilo moderno que expressasse bem essa época.
..."

Bibliografia, vários-sob consulta no trabalho original impresso
...Créditos Ana Monteiro


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