Como Abrantina...Por Ana Monteiro...


Por Ana Monteiro... 
"Cidade de Abrantes 
Espaços fachadas tipografia, projecto académico.

Abrantes foi a cidade escolhida para a elaboração do projecto académico referente aos espaços de uma cidade. Cada um destes espaços são vinculadores de aspectos intervenientes na sociedade, geradores de características e de objectivos distintos. Todos eles, pretendem auxiliar e oferecer modos de estar e de permanecer a todos os cidadãos. Assim, para captar a atenção destes, e para a transmissão de mensagens, o designer cria formas originais, funcionais e interventivas.

A intervenção gráfica nestes espaços refere-se a dois temas, o Natal e as Festas da Cidade. Ambos têm como base objectivos distintos, onde o design se incorpora neste paradigma histórico, bastante notável, transmitindo aos receptores novas mensagens ....

O Natal, alusivo ao nascimento de um Ser emblemático dotado de um saber universalmente conhecido fora-nos transmitido ao longo dos séculos. Consequentemente, o seu alto valor heróico e mitológico, sagrado e agregado à fé dos seus crentes, ramificou-se nos corações das sociedades e, estas pequenas e glorificadas palavras, tornaram-se em termos chave para o desenvolvimento estratégico e comunicacional desta intervenção gráfica referente a este tema.

Paralelamente, o segundo tema, as festas da cidade, onde predomina o calor a alegria do mês de Junho e remonta-nos também a uma história, a uma lenda, a uma tradição, a uma codificação e até mesmo, a uma associação dessa cidade que Camões homenageia como:

“Com toda esta lustrosa companhia Joane forte sai da fresca Abrantes, Abrantes, que também da fonte fria Do Tejo logra as águas abundantes.” Camões, Canto IV, Lusíadas
Esta cidade, está também associada a um conceito, ou seja, desde a década de quarenta é considerada como Abrantes Cidade Florida. Aqui, a flor estabelece um espaço próprio existindo em seu redor concursos de janelas e muros floridos que atingiu também prémios Europeus. Para além deste elemento emblemático há outro que a torna inconfundível e ilustre, ou seja, a famosa Palha de Abrantes. Doce regional, vinculador da lembrança do tempo em que o Rio Tejo era navegável onde, se carregava a palha oriunda de todo o Alentejo e que era transportada daqui em barcos para a capital.
Estes valores referentes a esta cidade sem dúvida, notáveis, bem como, os valores referentes ao Natal irão permanecer com formas gráficas aplicativas e interventivas nos vários espaços ou entidades escolhidas: a Igreja de S.º Vicente, a Biblioteca António Botto e por fim a Praça Barão da Batalha. Neste último espaço é um lugar primordial onde a actividade económica ou a venda da mencionada Palha de Abrantes se pode exibir ao seus clientes e turistas admiradores.

A Igreja de São Vicente localiza-se na freguesia de S.º Vicente e foi edificada no ano de 1149 durante o reinado de D. Afonso Henriques. É notavelmente considerada com uma estrutura plenamente imponente, sobre a qual, se ergue formas volumétricas e elegantes.
Para este espaço, o Natal é mencionado e meditado sobre uma vertente espiritual e meticulosamente profunda, onde a bondade e a serenidade se elevam em todos os Homens nesta época festiva.
A potencialidade arquitectónica desta fachada gerou uma estrutura comunicacional condutora de várias sequências originárias da relação existente entre a fachada e as restantes faces dos contrafortes.
A disposição dos contrafortes, aliada às formas redondas neles contidas, permitem equacionar os vários elementos gráficos a uma forma tornando-os complementares. Desta complementaridade, gerou-se o conceito inicialmente pretendido, ou seja, a profundidade e o místico. Esta opção fora acentuada com o uso da cor concebida através do uso de uma degradação tonal decrescente, permitindo ao receptor essa noção longínqua.
Na sua fachada, também é passível de interpretar uma mensagem tipográfica, a palavra Natal construída pela tipografia FRanklin GothiDemi geradora de uma forma volumétrica. Ela posiciona-se sob uma sequência hierarquizada onde a primeira palavra “N” encontra-se em primeiro plano e sucessivamente encontram-se as restantes letras. Esta sequência de letras vão ao encontro da referida componente inserida nos contrafortes da igreja.
A cruz como centro das atenções nesta religião é aqui evidenciada nesta fachada principal composta pela tipografia Diablo mais concretamente pela letra T. A escolha da tipografia deve-se à relação aparente da sua forma, a qual, associamos também a esta entidade.
O receptor ao contemplar este espaço é confrontado com pequenas frases oriundas do livro sagrado que permitem uma enquadração acentuada do tema sobre uma vertente de outrora.
A sua aparência estética ou formal da tipografia também possibilita uma sensibilidade e associação às formas usadas em livros sagrados e outros elementos gráficos desta instituição religiosa.
O uso da cor azul, nesta quadra do ano, deve-se essencialmente à evidência psicológica tonal que se associa, ou seja, uma “ponte” entre o terreno e o celestial onde o valor mitológico e místico se exaltam. O uso do branco interliga-se com os paramentos usados pelos padres nesta época.
Todo este conjunto gráfico será pintado excepto o da fachada que será impresso em tecido mais concretamente em linho.
Desta conjugação e sobreposição de planos conduz a uma interpretação óptica tridimensional, devido às proporções tomadas que, se enquadram na Arquitectura presente.
De noite, irá conter focos de luz estratégicos onde, o valor lumínico, se altera gradualmente nas várias componentes gráficas que permitem uma leitura gráfica acessível e legível.

Em oposto, temos a Festa da Cidade, onde a alegria se estende pelos habitantes e espaços desta cidade. O exterior da Igreja também irá culminar nesta época festiva, ou seja, formas reflectoras identificativas da época associada à cor, proporcionam jogos tonais e ópticos a qualquer receptor. A fachada é composta por uma lona com um determinado cortante que potência a forma volumétrica. A flor elemento vinculativo desta época é aqui representada por o uso da tipografia mais especificamente a letra “V” de Vicente (nome do Santo da Igreja), que conduz a uma forma botânica. O seu interior é composto por pequenas e repetidas frases (“Festa da Cidade”). Esta forma inserida na fachada foi reforçada com o posicionamento lateral para com a faixa da fachada, na qual, se efectuou uma zona de corte. Seguidamente a este corte possibilita volume através do afastamento entre a parede e o respectivo elemento. Esta forma estende-se nos restantes elementos gráficos posicionados também nos contrafortes.
Mas, em oposto com o Natal, aqui criou-se uma situação de jogo óptico para além da profundidade, ou seja, a aplicação de duas cores e o uso de uma forma triangular composta por pequenas tiras que conduzem um movimento ocular quando o receptor se desloca em seu redor. Sendo assim, quando o receptor se encontra na parte lateral da igreja, visualiza o tom azul, mas quando está situado de frente para a fachada as duas cores se destacam o verde e o azul. Mas, somente quando se entra nesse espaço é que a segunda cor, o azul, desperta-se. O azul é novamente ligado à mitologia apesar desta situação ser uma azul que transmite mais leveza e alegria.
A palavra festa também se destaca e encontra-se ao longo deste elemento gráfico. Sendo assim, na fachada da igreja se introduziu a sílaba “Fé” com significado homógrafo e seguidamente nos restantes planos se inseriu as restantes sílabas. De noite, estas palavras irão ter uma acentuação tonal devido à introdução de uma pigmentação de tinta. Ela torna-se reflectora com a devida iluminação no interior deste tubo triangular que irá emitir luz nas zonas da linha terra, face à luz predominante no edifício.
A Biblioteca situa-se num antigo convento pertencente aos Frades Dominicanos construído no ano de 1509. Após algum tempo, sofreu algumas transformações arquitectónicas, acabando por se transformar, num determinado espaço, numa Biblioteca Municipal. Aqui, existe inúmeros livros, inúmeros saberes e inumeras maneiras de transmitir mensagens, sendo a letra, um meio notável na comunicação de todos nós. Este é o local onde o Saber e a Cultura se interligam num só conhecimento.

Para transmitir o tema Natal equacionou-se esse conceito de vários tipos de letras para uma possível organização gráfica, sobre a qual, se difunde e se eleva uma forma gráfica que interrompe todas as suas progenitoras. Daqui, se formou a palavra “Bom Natal” inserida em faixas transparentes localizadas nos locais das janelas. Esta forma vertical rectangular está associada aos marcadores dos livros. Aqui está triplicada a palavra “Bom Natal” , sendo a do meio a que proporciona uma maior legibilidade em virtude da cor de fundo da parede.
A multiplicidade destas formas rectangulares oriundas da sanca posicionam-se até ao chão tomando aqui, diferentes afastamentos em relação à parede onde as pessoas poderão circular e entrar nestas zonas.
A tipografia usada conduz a uma legibilidade acentuada onde o tom encarnado lhe atribui um significado comum desta época.
Para a situação da festa da cidade foi introduzido um poema de um ilustre Professor e Poeta Abrantino. Esta interligação é aqui incutida devido ao tipo de instituição em causa. Por isso, dar mais ênfase aos valores culturais regionais foi o lema desta composição gráfica. A disposição de cada verso está disperso na fachada de modo a que o leitor faça uma leitura coerente e lógica. A expressão gráfica composta por diferentes espessuras e proporções transmite o sentimento da época festiva, a alegria e instabilidade. Desta interligação poética com o edifício e o tema foi introduzido vários símbolos gráficos - flores - concebidos através da letra “v”. Para dar mais ênfase a esta popularidade estes elementos são feitos em plástico colorido composto por vários cortes -Tipo escama - até formar esse elemento botânico. A escolha deste material, dá origem que ele próprio em contacto com o ar se desloque dando origem a um movimento aparente. O material aplicado no poema refere-se ao cobre “rústico” e está directamente ligado com os materiais aplicativos no edifício e principalmente na porta da entrada.

A praça Barão da Batalha, situada na zona histórica da cidade é emblemática devido à actividade predominante mais concretamente, a venda de produtos regionais, ou seja, a Palha de Abrantes. A palha, um conceituado doce, com aspecto confuso e compacto foi o índice para a composição gráfica chegada. Assim, estruturou-se um percurso na praça que dá origem a estes espaços comerciais. As várias e repetitivas formas gráficas tipográficas são associadas também à repetição, conceito este, demonstrativo no doce típico através dos vários fios de ovos da Palha de Abrantes. Vários módulos gráficos de diferentes tamanhos e posicionamentos facilitam a possível implementação comunicacional nesta praça. Estes módulos são posicionados sob a calçada e depois são pintados com as cores predominantes desta cidade. Esta forma gráfica conduz também à forma vertical efectuada em vinil transparente. Aqui, a palavra “Palha” é destacada enquadrando-se na zona de montra desses estabelecimentos, excepto uma situação, que se encontra na zona lateral da entrada. A tipografia escolhida, bem como, a forma rebuscada da letra permite uma forma característica e modular. Resumindo os elementos devidamente organizados proporcionaram os vários rumos ao produto típico desta cidade.
No Natal a palavra Palha é mantida mas, a forma gerada -o pinheiro é evidenciado tomando assim, uma forte proporção para com o edifício. Esta forma é colocada na zona da montra e da porta da entrada, ladeada pelo tom verde que modela a forma do edifício comercial e das letras que formam o pinheiro. O material aqui inserido é composto por vinil e na zona do pinheiro cria volume com um material esponjoso.
Ao longo da praça várias zonas redondas relvadas ergue-se o pinheiro tipográfico, elemento este, que se encontrara em várias direcções representativas dos vários pontos de orientação. Aqui, o pinheiro é também formado pelas mesmas formas esponjosas e na parte branca é colocado várias bolinhas de esferovite que representam a neve e de noite será iluminada."
...Créditos Ana Monteiro
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